Em minha época de repórter no Jornal dos Sports (Escolar-JS) tive a oportunidade de entrevistar o historiador Hélio Silva (autor da grande obra O Ciclo de Vargas) e, como também era eu um estudante de história, a entrevista acabou sendo mais um longo e agradável papo.
Já conhecia vários livros do Ciclo, e Hélio Silva me presenteou com um deles, com direito a autógrafo e tudo. Sempre gostei dos títulos que o autor dava a cada obra, talvez com ajuda dos editores, ou talvez nem tanto, por se tratar também de um jornalista que durante muitos anos cobriu a vida política do país em pleno centro dos acontecimentos no Rio, então capital da República e seu Distrito Federal.
Uma das obras interessantes é em relação a 1937, quando Getúlio assume pleno poder de ditador. A obra tem o sugestivo título de "Todos os golpes se parecem".
Getúlio foi o chefe da Revolução de 1930 (tida como revolução por ter posto fim ao modelo oligárquico existente na chamada República Velha). A expectativa era a de que uma eleição presidencial seria realizada em 1934, mas na ocasião Getúlio prolongou seu mandato até 1938.
Em 1937, sob o argumento de que os comunistas estavam tramando um golpe no país (Plano Cohen), na verdade um artifício inventado para Getúlio se manter no poder até 1945. Com o quadro artificial idealizado, o governo decretou o Estado Novo, estabelecendo de fato o período ditatorial da Era Vargas.
É a esse golpe de 1937, que Hélio Silva deu o nome em seu livro de "Todos os golpes se parecem".
De fato, o Plano Cohen foi idealizado por um capitão do Exército de nome Olímpio Mourão Filho, que foi o militar que desencadeou o movimento de 1964, em Juiz de Fora, de derrubada do presidente João Goulart. O livro da filha dele, Laurita Mourão Filho, é delicioso e conta detalhes desse episódio.
O Plano Cohen tornou-se factível, pois em 1935, ocorreu em Natal e em menor grau no Recife e Rio, o que veio a ser chamado pelo governo de a Intentona Comunista (Revolta Vermelha). Com isso, criou-se na opinião pública a ideia de que os comunistas estariam mesmo arquitetando nova tentativa de tomada do poder, com o termo intentona ficando associado a intenção louca - intento louco.
Para alguns analistas, a rebelião militar-comunista (o capitão do Exército Luiz Carlos Prestes foi um de seus líderes) permitiu a articulação da direita anti-comunista no país, permitindo que Getúlio pudesse em 1937 estabelecer o Estado Novo, reforçado pelo inventado Plano Cohen. A ditadura Vargas, desse modo, perdurou até 1945, com a deposição do presidente.
A partir daí, novas histórias e novas articulações na luta pelo poder.
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