quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Capitães do Asfalto


Jorge Amado lançou em 1937 o seu "Capitães de Areia" retratando a história trágica e triste de um grupo de menores abandonados em ação pelas ruas de Salvador, em 1930.
Brasil da miséria, da injustiça social, do latifúndio improdutivo, da má distribuição de renda e todas as mazelas sociais descritas em vários livros do célebre escritor baiano um dos mais importantes do país.

Em pleno século XXI, como farsa, a história se repete em várias de nossas grandes e médias cidades, sendo que no Rio de Janeiro, no ano das Olimpíadas, os novos "Capitães de Areia" barbarizam na cidade cometendo pequenos assaltos, roubando de tudo, relógios, pulseiras, cordões, bolsas e celulares.

Como sempre, a indignação é geral entre a população, principalmente, as pessoas chamadas de bem. Ordeiras e trabalhadoras que podem ver seus pertences - muitos ainda sendo pagos em suaves prestações - evaporarem nas mãos dos "Capitães do Asfalto".

Mas, a história de agora é muito diferente da de 30 descrita por Amado. Possuímos um país em pleno progresso e ainda uma das maiores economias do mundo, a ponto de a cada dia surgirem novos e grandes roubos e o país continuar sem quebrar, sem abrir falência.

O Rio de Janeiro, por exemplo, possui como São Paulo um dos maiores efetivos policiais entre os grandes centros, desde policiais civis e militares até a Guarda Municipal.

Só que esse efetivo é maciçamente colocado em uma eterna guerra contra o tráfico de drogas que gera e continua enriquecendo muita gente, tanto do lado dos mocinhos como dos bandidos. É uma guerra sem fim que não há interesse que termine nunca. Ela ocasiona a necessidade de criação de novos presídios (Bangu 1, 2, 3, 4, 5) e o aumento constante de efetivos para criação do mundo mágico das Unidades Pacificadoras.

Os recursos que deveriam ser gastos com saúde, educação e transportes acabam sendo utilizados de maneira intensiva com o aparato de segurança. As tropas utilizadas na guerra civil perpetuada pelo próprio Estado deixam de ser utilizadas no policiamento de ruas, deixando o cidadão ordeiro e trabalhador a própria sorte.

Não é preciso esquentar. É só relaxar e reler os Capitães de Areia de Jorge Amado ou então a sua versão em filme,

Quem sabe em breve teremos também o nosso Capitães do Asfalto, nas melhores casas do ramo.

Mauricio Figueiredo

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