sábado, 13 de dezembro de 2014
Petrobras e o mar de lama e etc
Durante muito tempo, os concursos públicos da Petrobras e Banco do Brasil despertaram - e ainda hoje despertam - o interesse de milhares de candidatos.
Na Folha Dirigida, contato com a Petrobras sempre fazia parte da pauta permanente de assuntos a serem vistos devido ao interesse geral do público leitor.
Como editor chamava a responsabilidade dos contatos com a empresa para mim próprio, por se tratar de um assunto delicado.
Havia no órgão uma assessoria de imprensa e uma outra, se não me engano de comunicações. Todas duas com um grande staff de jornalistas. Como era comum na época, muitos profissionais de órgãos públicos se esquivavam de pautas referentes a concurso público e a Petrobras não ficava atrás.
Generosamente a empresa fazia seu marketing publicitário por meio da área de Comunicações, encarregada de indicar os veículos de imprensa que acolheriam suas publicidades. Normalmente, os dois grandes jornais de São Paulo (Folha e Estadão) e no Rio (Globo e JB), os demais nem pensar.
No meu caso, o caminho era mesmo a assessoria de imprensa, na qual era destinado a alguma diretoria para tratar de assuntos como a Petrobras como mercado de trabalho para universitários ou algum outro artifício que impedisse o veto caso falasse em concurso público.
Certa vez consegui a simpatia de um desses colegas assessores e por meio dele obtive acesso a ninguém mais que o presidente da empresa, o ex-ministro Hélio Beltrão. Foi o caminho das pedras para conseguir melhores informações pela área de Recursos Humanos da empresa.
Isso foi possível porque ao contrário de muitos burocratas do passado Hélio Beltrão era um cidadão de grande transparência.
Ele não se via no cargo com o um Imperador todo poderoso, mas sim como simples servidor público.
Na ocasião, o mundo ainda não tinha tido a explosão da informática.
Hélio Beltrão em seu gabinete, sem qualquer luxo, me disse que uma das medidas que estava adotando na empresa para corte de custos foi a de realizar o rodízio das máquinas datilográficas, grande número as elétricas consideradas na época as mais sofisticadas.
Segundo ele, ao percorrer à sede via que muitas salas possuíam várias máquinas sem serem utilizadas, enquanto outros setores encaminhavam pedidos para compra de novas máquinas.
Beltrão estabeleceu então uma espécie de Central na qual as máquinas ficavam sediadas. Quando algum setor que não utilizava as máquinas em uso contínuo necessitava de alguma, um contínuo a colocava em um carrinho, como esses de aeroporto, pegava o elevador e as levava ao interessado e depois no fim do expediente ou mesmo antes passava para recolher.
Está visto que essa visão administrativa não se resumia a isso. O presidente talvez tivesse olhar aguçado para a farra do boi das terceirizações e do empreguismo dois grandes males que resultaram na explosão do mar de petróleo de corrupção que veio a explodir agora colocando a empresa em séria crise institucional e econômica.
Na Folha foram constantes as denúncias apresentadas pela Associação dos Engenheiros da Petrobras e também pelo Sindicato dos Petroleiros.
Na ocasião apontava-se a existência de 60 mil terceirizados, com a utilização de empresas com pouca qualificação e pessoal despreparado. Os acidentes em plataformas eram frequentes.
O concurso público era realizado, mas sempre com número de vagas insuficientes, pois o mecanismo das terceirizações era intocável.
O ministro Beltrão durou pouco na Petrobras. Ele foi o idealizador do Programa de Desburocratização do Governo Militar, instituído pelo Decreto nº 83.740, de 18 de julho de 1979.
A base do programa era a melhoria do atendimento dos usuários do serviço público; redução da interferência do Governo na atividade do cidadão e do empresário e abreviar a solução dos casos em que essa interferência é necessária, mediante a descentralização das decisões, a simplificação do trabalho administrativo e a eliminação de formalidades e exigências cujo custo econômico ou social seja superior ao risco.
Foi Beltrão com suas medidas desburocratizantes que tornou viável o Estatuto da Microempresa e os Juizados de Pequenas Causas (mais tarde transformados nos atuais Juizados Especiais).
Como registra o Wikipedia, a partir da década de 90, o programa começa a ser abandonado e com o fim do ciclo militar e da extinção do próprio Ministério, bem como a revogação do decreto, em 2004, ocorreu um retrocesso e várias das medidas desburocratizantes não saíram do papel.
A Petrobras foi um dos muitos órgãos públicos e estatais que passaram a funcionar como caminho livre para os apadrinhados políticos. Nesse caso, a qualidade passou a ter um custo excessivamente elevado.
Agora, em vez de um poço retumbante de petróleo a contribuir para o crescimento do país, envergonhados assistimos o jorrar sem fim de um mar de lama e outros excrementos tão nocivos ao Brasil e ao seu povo.
MAURICIO FIGUEIREDO
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