domingo, 8 de setembro de 2013
Nós, os Ninjas do Cairu
Um dia desses me bateu a nostalgia dos anos 60 e fui ao Méier pegar uma segunda via do certificado de conclusão do segundo grau. Foi com saudosismo que visitei o meu antigo colégio Visconde de Cairu... Foi só pelo lado de fora... As antigas e belas escadarias mal tratadas, cheias de poças de água e goteiras e a fachada que não deve ver uma pintura há anos... Fui somente na secretaria logo no primeiro andar. A grande novidade é uma moderna catraca eletrônica...
Há algum tempo recebi contato de um pessoal - como eu - expulso em 1968 da rede estadual de ensino do Rio por ter integrado o movimento estudantil. O pessoal estava se organizando para entrar com uma ação pedindo indenização ao governo. Nós do Cairu fizemos uma greve de quase 15 dias, algo inédito no segmento de nível fundamental e médio, cujos movimentos não passavam de 3 dias, sendo logo abafado pela repressão dos diretores.
Voltar ao Cairu é sentir na pele o significado da canção "Coração de Estudante" que fala em uma geração tolhida em seu crescimento (quem canta é o Milton Nascimento, com música do Vagner Tiso). Fiquei com vergonha de participar do grupo que cobra um "cacau" de nossa generosa "Pátria Mãe Gentil", na qual tantos, por muito menos, assaltam impunemente os cofres dia e noite sem parar. Ainda vivo um pouco a ilusão da canção de Macalé: "Não preciso de muito dinheiro, graças a Deus..."
O Cairu estava vazio, por causa da greve dos servidores e professores. Não sei como o velho colégio anda das pernas em termos de qualidade do ensino, que tem algo muito mais adiante do que simples médias nas disciplinas registradas no currículo ou rendimento nos diversos rankings com base em testes de avaliação. Caráter e vergonha na cara, como queria Capistrano de Abreu, em sua nova Constituição para o Brasil, nem sempre são fáceis de avaliar, pois há muitos lobos vestidos com peles de cordeiro...
Meu amigo, Benito Alemparte me escreve falando da incitação do Caetano Veloso aos jovens manifestantes Ninjas. Meu lado de senhor idoso fala mais alto, tentando conter o ímpeto de minhas filhas, genros e netas com a visão incendiária que muitos jovens possuem diante de tantas e tantas bandaleiras que ameaçam o futuro dos novos que chegam. Faço como minha velha mãe fazia comigo e peço aos céus proteção para eles e para todas a meninada desconhecida que põe a cara à tapa, mesmo protegida por uma máscara negra, enquanto muitos criminosos aparecem de cara limpa clamando por absolvição.
Lembro do Caetano, com a canção incendiária "É proibido proibir": "derrubar as prateleiras, as estantes, os livros sim" e "os automóveis ardem em chamas na avenida, sim... E eu digo não ao não e é proibido proibir."
Às vezes também me dá nostalgia de 1968 - o ano que não terminou -. E diante da catraca do Cairu não sei como reagiria a minha geração do Adolfo, Eldo, Flavio Conrado Nobre, Mauro Paixão, Pimpinela (uma menina, desculpe pois esqueci o primeiro nome, em cujo apartamento nos reuníamos no Méier), o João Ronaldo Duboc e tantos outros que seguiram em frente.
Pensando bem: acho que temos direito a uma indenização. Nós os Ninjas do Colégio Estadual Visconde de Cairu.
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