INDOLOR
Há muito tempo que os dois não se encontram. Dizem que a vida modifica as pessoas, mas o Nonato continua o mesmo. Não fisicamente falando, pois os cabelos sumiram, a barriga aumentou muito de volume, a voz talvez esteja um pouco mais grave. Foi na Rio Branco, esquina com Ouvidor. Então, o Dias puxou conversa depois de um ligeiro abraço com o velho amigo.
__ Isso aqui vai ficar bonito quando o bondinho começar a entrar nos trilhos.
__ Como assim. Isso é uma roubalheira. Um assalto aos cofres públicos, enquanto nossos hospitais e escolas estão um verdadeiro caos - Nonato esbravejou.
Ele procurou mudar de assunto, pois o amigo mantinha o jeitão de falar alto como se estivesse pregando em praça público para uma imensa plateia.
__ É verdade. Tudo é uma questão de prioridade - tentou amenizar o elogio ao fatídico bondinho.
__ Temos mania de começarmos novas obras e não terminarmos outras. Cadê o bondinho de Santa Teresa?
Dias lamentou a infeliz ideia de ter começado a conversa. Agora todos passantes olhavam para ele como se também estivessem cobrando pelos bondinhos de Santa Teresa e pelo andar da carruagem logo estariam cobrando pelas vigas que sumiram de um certo elevado, dando início a uma manifestação.
Tentou mudar o rumo da conversa. Futebol é sempre algo mais leve. E o nosso Mengo? Parece que agora vai acertar com o Muricy...
__ Que acertar coisa nenhuma. Futebol é pura roubalheira. A maior lavagem de dinheiro da história desse país. Virou uma negociata e o objetivo é apenas o de exportar crianças para o exterior. Até pra China estão sendo enviadas...
__ É mais em parte é bom pois muita garotada pobre acaba fazendo seu pé de meia e muitos deles ajudam os pais e familiares - retrucou o Dias.
__ Isso é uma minoria. A maior parte não ganha nem salário mínimo. Em pouco tempo vira tudo criminoso. Esse país não tem jeito...
Viu que a saída seria concordar com o velho amigo:
__ Concordo. Não há mais esperança. Estamos indo direto pro buraco...
__ Estamos indo. Você é muito otimista. Estamos literalmente no meio do buraco - gritou o Nonato.
Os pedestres passavam acompanhando o discurso feito em altos brados e agora em maior volume.
Tentou escapar e apelou para a genitora do amigo:
__ E Dona Magnólia. Está bem de saúde? Que excelente pessoa. Sempre de bem com a vida. Um exemplo para todos...
Mas logo foi interrompido:
__ Neste mundo não podemos confiar em mais ninguém. Tive uma discussão braba com ela, quando conversando sobre a minha infância disse que nasci de cesariana.
__ Talvez, os médicos tivessem recomendado o parto dessa maneira - tentei amenizar a decepção do amigo.
__ Qual nada. Puro comodismo para não sentir dor. Esse é o mal da humanidade. Querem viver a vida sem sentir dor.
__ Isso aqui vai ficar bonito quando o bondinho começar a entrar nos trilhos.
__ Como assim. Isso é uma roubalheira. Um assalto aos cofres públicos, enquanto nossos hospitais e escolas estão um verdadeiro caos - Nonato esbravejou.
Ele procurou mudar de assunto, pois o amigo mantinha o jeitão de falar alto como se estivesse pregando em praça público para uma imensa plateia.
__ É verdade. Tudo é uma questão de prioridade - tentou amenizar o elogio ao fatídico bondinho.
__ Temos mania de começarmos novas obras e não terminarmos outras. Cadê o bondinho de Santa Teresa?
Dias lamentou a infeliz ideia de ter começado a conversa. Agora todos passantes olhavam para ele como se também estivessem cobrando pelos bondinhos de Santa Teresa e pelo andar da carruagem logo estariam cobrando pelas vigas que sumiram de um certo elevado, dando início a uma manifestação.
Tentou mudar o rumo da conversa. Futebol é sempre algo mais leve. E o nosso Mengo? Parece que agora vai acertar com o Muricy...
__ Que acertar coisa nenhuma. Futebol é pura roubalheira. A maior lavagem de dinheiro da história desse país. Virou uma negociata e o objetivo é apenas o de exportar crianças para o exterior. Até pra China estão sendo enviadas...
__ É mais em parte é bom pois muita garotada pobre acaba fazendo seu pé de meia e muitos deles ajudam os pais e familiares - retrucou o Dias.
__ Isso é uma minoria. A maior parte não ganha nem salário mínimo. Em pouco tempo vira tudo criminoso. Esse país não tem jeito...
Viu que a saída seria concordar com o velho amigo:
__ Concordo. Não há mais esperança. Estamos indo direto pro buraco...
__ Estamos indo. Você é muito otimista. Estamos literalmente no meio do buraco - gritou o Nonato.
Os pedestres passavam acompanhando o discurso feito em altos brados e agora em maior volume.
Tentou escapar e apelou para a genitora do amigo:
__ E Dona Magnólia. Está bem de saúde? Que excelente pessoa. Sempre de bem com a vida. Um exemplo para todos...
Mas logo foi interrompido:
__ Neste mundo não podemos confiar em mais ninguém. Tive uma discussão braba com ela, quando conversando sobre a minha infância disse que nasci de cesariana.
__ Talvez, os médicos tivessem recomendado o parto dessa maneira - tentei amenizar a decepção do amigo.
__ Qual nada. Puro comodismo para não sentir dor. Esse é o mal da humanidade. Querem viver a vida sem sentir dor.
MAURICIO FIGUEIREDO
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