sábado, 6 de fevereiro de 2016

Chave de Ouro


O quente do carnaval carioca, especialmente durante o regime militar, era, sem dúvida, o inusitado bloco Chave de Ouro do bairro do Engenho de Dentro, na zona norte da cidade. O bloco ficava na região da rua Adolfo Bergamini, cujo comércio tinha esse nome, e acabou virando uma espécie de bairro não oficial.
Em verdadeiro estilo de desobediência civil, o bloco "O que é que eu vou dizer em casa? da Chave de Ouro fazia o seu desfile em plena quarta-feira de Cinzas, sofrendo duras críticas de religiosos e dos comerciantes da região que viam na prolongação do carnaval uma afronta aos costumes sagrados e ao faturamento, por parte dos outros.
Um aparato policial era enviado para as imediações do Méier e Engenho de Dentro, pois para driblar a polícia, o bloco poderia começar o desfile pelo bairro vizinho. Na brincadeira da rapaziada articuladora do bloco da desobediência, uma concentração falsa de foliões era feita em um determinado local, com meia dúzia de participantes, enquanto o bloco verdadeiro tomava conta das ruas, engrossado pela população. O divertimento era a dispersão quando a polícia chegava (tal como hoje) dando borrachada a torto e direito para dispersar os foliões.
Com o início da abertura política, houve o bom senso de não se reprimir mais o Chave de Ouro. Dessa maneira, a partir de 1978, a brincadeira do desfile às quartas-feiras foi perdendo força e o bloco passou a ser coisa do passado.

O bloco tinha o costume de carregar um caixão para o enterro do político mais impopular da ocasião.
Se fosse hoje, certamente, não haveria caixões em quantidade suficiente.

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