OU: brincando de médico
Não sei como é o teu umbigo. Aliás, não sei e nem quero saber e tenho raiva de quem sabe. O meu é fundo como um buraco em que cabe uma moeda de 50 centavos. Foi moldado assim, porque na minha vinda ao mundo era hábito ao ser arrancado do útero, depois de afastado da placenta no lugar do futuro umbigo, colocar-se uma moeda e tapar tudo com gaze embebida em mercúrio cromo e enrolar o ser nascente em faixas e mais faixas de pano, como uma múmia paralítica em que só existiam cabeça, braço e pernas.
Depois de algum tempo anestesiado, eis que me é dado o primeiro banho e o contato com a água morna medida pelo calor da mão da mãe.
E para orgulho geral de mãe, tias e vó, eis que vem ao mundo o meu belo, redondo e profundo e imponente umbigo meu.
Por favor, diga a ela, não põe o dedo no meu umbigo. Mas, por pirraça, sem motivo algo me surpreende, com o seu dedo arisco em meu umbigo, me levando a ver estrelas.
E as nossas mais profundas brigas surgiam disso. E ela implicante dizia: "teu umbigo está sujo". E eu ríspido respondia: "é melhor eu quero e eu gosto assim." E ela insistente: "Passa uma bucha, uma escova, um algodão com álcool ou creolina, seu porco!
Hoje, olhando à noite pela janela, o céu estrelado, vejo uma estrela cadente. E, como mamãe me ensinou, o pedido que deve ser instantâneo: "Por favor, todo mundo, não põe o dedo no meu umbigo".
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Ra ra ra... Isso me lembra algo!!! kkkk...
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