Ser redatora de Obituário em jornal do interior era o grande drama de Dona Manuela. Formada em jornalismo em um grande Centro, ao voltar para a cidade jamais imaginara caber a ela a ingrata função de ter de resenhar a vida de ilustres que partem dessa para a melhor. Endeusava a trajetória política de antigos prefeitos que partiam, do dono da padaria e seguindo a orientação do editor (orientado pelo dono do jornal), transformava o capeta em santo.
Foi em uma sexta-feira, quando já pronta para deixar a Redação do jornal foi surpreendida com a morte de um grande ator norte-americano, admirado pelo dono do jornal. O editor recebera no telefone a orientação para que desse chamada na primeira página e destaque na página interna. Acontece que ninguém no jornal, a não ser o dono, conhecia o “famoso quem?”” ator. Em sua infância sofrida, o empresário das Comunicações, tinha assistido um filme com o ator desconhecido que o marcara muito. Agora queria retribuir, com uma homenagem em sua publicação.
Dona Manuela socorreu-se no Google e conseguiu um retrospecto meio capenga do ator, enfeitando com a imaginação até chegar as 30 linhas determinadas pelo editor. De casa, a turma já telefonava cobrando sua presença no churrasco, que a essa altura estava bombando.
Foi quando o editor, em uma “puxada” ao dono do jornal, encasquetou que queria a foto do ator ilustre da infância do patrão.
Dona Manuela não pensou duas vezes. Tirou da bolsa a foto da Primeira Comunhão do sobrinho Miguelzinho e mandou ver.
No dia seguinte, o editor foi chamado às pressas à casa do patrão, a fim de dar explicações para o fato do ator, branco e louro (um americano típico) ter morrido aos 82 anos e o jornal exibir a foto de um pretinho de uns 8 anos de idade.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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