Sociólogo e professor Muniz Sodré é um dos convidados do evento Justa Consciência
Escritor, jornalista, professor, sociólogo e intelectual. Muniz Sodré tem 73 anos e a tranquilidade de um legítimo baiano e de quem pratica ioga pelas manhãs. As opiniões são claras e determinadas, transmitidas sempre de forma serena. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com mais de 30 livros publicados em comunicação e cultura, Sodré é um dos convidados da mesa de debates do evento Justa Consciência, que acontece no próximo dia 20, sexta-feira, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), para celebrar o Dia da Consciência Negra. O professor adianta que vai explicar o porquê de não acreditar na simples caracterização do homem pela cor da pele, negra ou não.
“Negro não existe. Isso é uma invenção. Existem pessoas de pele clara e pessoas escuras. Mas ‘o homem negro’, como ‘o homem branco’, isso, para mim, é a base do racismo. Existem pessoas e elas variam de cor. Essa categoria de ‘homem negro’ não essencializa nada, assim como o ‘branco’ também não”, afirma Sodré.
Ele explica também que é importante que o negro se assuma como parte de um grupo em busca constante por espaço na sociedade, mas que não é apenas isso que garante uma mudança social imprescindível. “É uma questão de identidade. É necessária para justificar políticas afirmativas, mas é preciso não acreditar demais nessa identidade. A cor dá uma posição dentro de relações sociais que são marcadas. As categorias de ‘homem branco’ e ‘homem negro’ são marcações dentro do paradigma de domínio”, diz o sociólogo. Ele considera que, apesar da cor não significar diferentes raças, foi isso o que se fez acreditar historicamente para justificar o domínio do branco no Mundo Ocidental e que, como consequência, explica o racismo ainda hoje tão visível na sociedade. “Existe racismo porque existe a relação racial, baseada na suposição de que a raça existe. É uma relação baseada na mentira”, assegura Muniz Sodré.
Sobre o racismo, Sodré é enfático: “É uma aberração, um anacronismo”. Para o professor, o racismo remonta a tempos que já deveriam ter ficado para trás. “É um resíduo do escravagismo. A escravidão não acabou. Acabou juridicamente, legalmente. Mas não psicológica e socialmente”, acredita o professor.
Na opinião de Sodré, o debate sobre o racismo ganha força e são importantes iniciativas como a do TJRJ, para ouvir a comunidade. Apesar disso, ainda existem, em meio às discussões, lacunas a serem preenchidas, principalmente pelos meios midiáticos que poderiam contribuir com ações de igualdade. “A questão é maltratada pela imprensa. A mídia é racista”, afirma, categoricamente, sem se esquecer de pontuar que existem exceções entre jornalistas e empresas.
O amigo Rufino
O professor e escritor Joel Rufino será o homenageado do evento Justa Consciência. Falecido no dia 4 de setembro deste ano, o então Diretor-Geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento do TJRJ será lembrado pelos ex-colegas e convidados por seu trabalho e seu legado, que inclui os projetos idealizados na sua passagem no Tribunal de Justiça do Rio. Muniz Sodré também faz a sua homenagem, sempre que o nome de Joel é citado, e não poupa adjetivos nos elogios ao amigo.
“Eu considero o Joel um dos maiores intelectuais brasileiros do meu tempo. Não só como capacidade de um fino escritor, mas também uma pessoa fina”, enaltece Sodré. O sociólogo conta que ele e Rufino foram amigos dentro e fora do espaço acadêmico, e lamenta a perda do professor, destacando o bom caráter de Rufino.
“Nunca vi o Joel ressentido, com sentimento de vingança contra ninguém. É uma perda como amigo e como personalidade brasileira”, afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário