Ele é tricolor doente.
Acredita que Fred será a
grande sensação do Mundial,
marcando o gol do hexa,
deitado eternamente em
berço esplêndido em pleno
Maracanã, contra a Argentina
ou Alemanha. Reunirá no fundo
do quintal os amigos, com muita
cerveja, fogos e seus cachorros
Ela está horrorizada com os gastos.
Protesta contra as péssimas condições
dos hospitais, escolas e falta de saneamento.
É defensora do meio ambiente e quer a
imediata moralização da política brasileira.
Fará com os amigos um Estudo sobre Foucoult
durante a Copa. Quer silêncio total na sala
de jantar, com perfumes de rosa e incensos.
Ele esbraveja por entre a garotada,
pintando as calçadas de verde amarelo,
desenhando nos muros o retrato de Neymar
e Felipão. Fala da miséria e da alienação.
Grita impropérios e em vão tenta impedir
que pintem o seu portão. A menina debochada
grita da calçada: "Cuidado velho com o coração,
na Copa não vai ter hospital não..."
Ele prepara seu uniforme de ninja. Sua melhor
camiseta negra e a máscara com proteção
contra gases. Faz a contagem regressiva e sonha
com grandes protestos, queimando ônibus, bancos
e todas as latas de lixo que tiverem em seu caminho.
Ela ameaça acabar o casamento, quando ele entra
em casa com a televisão de led, enquanto na área
a roupa suja se acumula no cesto em meio a máquina
de lavar enguiçada e a velha geladeira pingando água
sem parar.
Ele pega a velha bola surrada chama os colega para
a rua, pois vai começar a pelada. Sonha com a camisa
do Barcelona, com novos dribles e pedalada. Acredita
que está vai ser a maior Copa da sua vida, apesar da
escola fechada.
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