sábado, 8 de fevereiro de 2014

Futebol para milionários

No passado, era comum o antigo Maracanã reunir um público de mais de 100 mil espectadores. Não era tempo das modernas arenas com suas cadeiras e demais confortos. A maioria dos torcedores optava pela arquibancada (com visão do campo muito melhor do que a das cadeiras na qual se isolavam os que tinham mais dinheiro) e a chamada ralé tinha a opção da Geral, onde a visão do gramado era apenas relativa, com os principais lances sendo acompanhados pelo radinho de pilha. Não importa: todos se divertiam e as raras brigas não passavam de escaramuças, logo separadas pelos próprios torcedores, estes sim, organizados com a camisa de seus clubes. Havia um foguetório na entrada das equipes em campo, sem risco de alguma pessoa ser atingida, pois eram direcionados para o alto e não em direção ao torcedor da equipe adversária. As bandeiras tremulavam altaneiras, em grandes mastros, fazendo da torcida um espetáculo à parte. Era comum a frequência de crianças e mulheres. O futebol, sobretudo aos domingos, era um espetáculo para as famílias.

Atualmente, com as modernas arenas (e um pouco antes delas), o povão foi sendo afastado dos estádios. A violência constante perpetuada por marginais, que não recebem a devida punição. Pelo contrário, geram até comoção entre alguns, como ocorreu com um grupo acusado de ter matado um menino torcedor na Bolívia (Kevin Beltran Espada, 14 anos), quando foi atingido por um sinalizador, durante partida do Corinthians contra equipe local, cobrando das autoridades brasileiras interferência para serem soltos. A impunidade resulta em repetição dos mesmos atos de violência ou até mesmo em maior grau, como no episódio da briga em partida do Atlético Paranaense contra o Vasco, em Santa Catarina, pelo Brasileirão.

Ao lado da selvageria que, por vezes, se transforma uma simples partida de futebol, há também o problema dos preços exorbitantes do ingresso para um espetáculo de qualidade duvidosa, pois os melhores atletas do país, rapidamente, são exportados para fora. Outro fato que afasta as pessoas dos estádios é a precariedade de nosso sistema de transporte, com a conhecida redução do número de ônibus e demais veículos nos fins de semana, além do preço alto da passagem em relação ao desconforto oferecido. O uso do carro também é dificultado pelo achaque de flanelinhas ou mesmo receio de o veículo ser avariado pelos muitos marginais que se espalham pela região dos estádios.

Há ainda, a ganância geral dos comerciantes oficiais nos estádios e dos ambulantes fora deles, com os preços proibitivos de lanches e bebidas em geral.

Diante disso, os estádios deixam de ser ocupados pelos mais pobres, passando a ser uma diversão de classe média. Mas mesmo essa, acaba fugindo, dando preferência a assistir a partida pela televisão ou na roda de amigos em algum bar, restaurante, salão de festa do condomínio ou na laje de casa.

Sem contar com o público que começa a curtir o futebol estrangeiro, na qual despontam os craques brasileiros.

                                                  


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