A moça do IBGE bate lá em casa. Por via das dúvidas abro as janelas e portas, tendo em vista a mentalidade provinciana da vizinhança. Faz meia dúzia de perguntas absurdas, como saber se o prédio conta com rede de esgotos (como respondo que não sei – ela mesmo afirma que todos os demais moradores disseram que sim e a própria síndica confirmou), se o apartamento é próprio, quantos são os moradores (os gatos não contam – afinal de contas quem lá quer saber de gatos e cachorros, embora as despesas pesem muito no orçamento doméstico) e mais algumas outras questões de pouca relevância. Fica espantado quando me declaro negro (embora de verdade seja tão branco ou mais que o Ronaldo Fenômeno). Só falta perguntar se eu tenho certeza sobre minha cor, se não desejo mudar a declaração, etc e tal. Depois afirma que um outro morador será escolhido para um preenchimento mais detalhado abordando diversos assuntos. Fico pensando se as pesquisas eleitorais também são feitas dessa maneira. Se alguém no meu prédio for eleitor do candidato X todo o prédio tenderá para a direita ou para esquerda ou para o centro ou na verdade somos todos uma manada pensando da mesma forma, influenciados pela rede de esgoto que o Poder Público construiu no bairro ou pela Operação Asfalto Liso (Meu primo em Portugal pensou que era piada. Ele não sabia que até então sofríamos com o Asfalto Buraco).
No momento, pareço ser o único vagabundo de plantão no prédio. A moça do IBGE afirma que muitos apartamentos encontram-se fechados e por isso, terá de fazer plantão aos sábados para completar a pesquisa. Quase que sugiro para que não perca tempo. Todos dirão que temos esgotos e aqui até os pardos-negros se declaram brancos-brancos.
Quando vou trabalhar encontro sempre a moça do IBGE de plantão na portaria do prédio, exercendo a difícil arte de contar o número de brasileiros.
“De repente, parece que todo o Brasil deu a mão”.
São apenas aparências, cada vez é cada um por si e Deus por ninguém.
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